30% Club: Webinar discute equilíbrio de gênero na visão dos investidores
O 30% Club do Brasil realizou o webinar ““Equilíbrio de Gênero nos Conselhos – Visão dos Investidores Institucionais”, com a participação do Presidente-Executivo da Amec, Fábio Coelho e da analista ESG do Santander Asset Management, Luzia Hirata. O evento contou com a moderação de Olívia Ferreira, fundadora da Enlight e Co-Presidente do 30% Club Brasil.
“A campanha do 30% Club é um movimento voluntário global que promove a equidade de gênero nos Conselhos e C-Levels através da adesão de Presidentes de Conselhos, que estabelecem metas voluntárias para aumentar essa participação feminina”, explicou Olivia na abertura do webinar. Ela destacou que no Brasil a meta é ter pelo menos uma mulher em todas empresas que compõem o lBrX-100 da B3 até 2021. Atualmente há 36 companhias que compõem o índice que ainda têm Conselhos exclusivamente masculinos.
A segunda meta é alcançar pelo menos 30% de mulheres nesse Conselhos até 2025. “São metas aspiracionais e vamos trabalhando com vários stakeholders capazes de promover essas mudanças, sendo que um deles são os investidores”, disse. Segundo ranking da BoardEx de 2020, a Europa está acima de 30% de mulheres em conselhos, enquanto Brasil, Rússia e Japão estão na casa de 10%. A média global, por sua vez, é de 25%.
A mediadora explicou que os avanços de diversidade são uma resposta das companhias ao engajamento, seja individual ou coletivo, de grandes investidores institucionais. “Isso tem se intensificado juntamente com o crescimento dos investimentos ESG, que levam em consideração as questões Ambientais, Sociais e de Governança nas análises de risco e oportunidades”, ressaltou Olivia. A criação de regulamentações é outro fator importante para o aumento da participação de mulheres nos conselhos.
Em sua apresentação, Fábio Coelho mostrou como esse tema vem ganhando maior visibilidade nos últimos meses. “A Amec está acompanhando com atenção o que os gestores e investidores institucionais estão fazendo”, destacou. Segundo ele, os movimentos em favor da maior presença de mulheres nos conselhos são fortalecidos com a tendência verificada recentemente de muitos investidores institucionais que assumiram compromissos públicos nos aspectos ESG.
“Os compromissos indicam maior maturidade no cumprimento do dever fiduciário das empresas. Os investidores, como acionistas, percebem seu papel de acelerar esse processo e fazer as coisas acontecerem”, comentou o Presidente da Amec.
Fábio destacou ainda o apoio da Amec à agenda do 30% Club para que se tenha maiores resultados tanto no curto quanto no longo prazo. Ele apontou o engajamento dos investidores, também chamado de Stewardship, como maneira de influenciar as empresas na adoção de práticas socioambientais.
A prática de Stewardship está relacionada ao reconhecimento desse papel por parte dos gestores. “Diversidade de gênero geralmente começa no ‘S’ de Social. Os investidores percebem qual o percentual feminino nos Conselhos e que essa diversidade precisa gerar uma métrica de comparação nas empresas. O ‘G’ de Governança passa pela tendência mundial de perceber que empresas que incluem um número maior de mulheres em seus boards têm condição melhor de tratar de outros temas que geram valor no longo prazo”, disse Fábio.
A Amec tem percebido que os investidores têm questionado os presidentes das empresas sobre o aumento da presença feminina em seus conselhos, mas o tema ainda é incipiente. “No Brasil ainda há dificuldade de observar engajamentos específicos para questões de diversidade, sendo que temas relacionados a relações trabalhistas estão na frente do assunto, bem como processos exclusão de empresas de tabaco e armamentistas. Porém, a equidade e diversidade de gêneros já aparecem nas pautas das reuniões”, disse.
Asset
Luzia Hirata apresentou sua experiência como gestora de ativos na incorporação das métricas ESG no Santander Asset Management. “O Grupo Santander está comprometido com a agenda de diversidade em conselhos, cumprindo metas também na liderança executiva. Como asset, temos metodologias e métricas para avaliar as companhias. Mais recentemente, tivemos uma evolução para uma análise global, o que nos dá uma referência para avaliação das empresas brasileiras, podendo compará-las com outros países”, disse.
“Na questão ambiental, por exemplo, avaliamos o uso de recursos, emissão dos poluentes, gestão Ambiental, mudanças climáticas; no âmbito social, questões trabalhistas, relativas a direitos humanos, comunidades e cadeia de fornecimento, e nesse caso entra a avaliação do percentual de mulheres e homens nas empresas de maneira abrangente, e na liderança e Conselhos de Administração”, disse Luzia.
A analista disse que na questão de Governança é avaliada a estrutura dos Conselhos e a diversidade de sua formação. “Entendemos que quando se tem uma diversidade maior, as companhias conseguem se preparar de forma mais estratégica para os desafios”.
A diversidade não é somente uma ferramenta para inclusão, mas sim uma maneira das empresas se prepararem para alcançar um maior nível de gestão, destacou Luzia. “Quando falamos sobre empresas e setores, temos uma diferença em relação à maturidade das empresas nos aspectos ESG”, explicou.
Luzia compartilhou que a asset fez um exercício de mapear quantas mulheres estão presentes em conselhos de empresas listadas no ISE da B3. “Uma das dificuldades é ter pessoas preparadas para assumir esses cargos. Além disso, há alguns setores mais complexos de passar por essa avaliação, com uma resistência inicial que precisa ser quebrada”. Ela ressaltou que empresas que têm desempenho melhor e entregam seus resultados no longo prazo são as que têm um olhar mais preparado para questões de sustentabilidade e diversidade.
A analista do Santander Asset citou que entre as metas que podem ser avaliadas dentro das empresas para saber se há engajamento nas questões de diversidade, além da presença de mulheres em Conselhos e cargos de liderança, está também a redução do gap de salário.
“Hoje o Grupo Santander possui 30% de mulheres no seu conselho. A meta é ter de 40% a 60% de mulheres até 2021, e pelo menos 30% de mulheres em cargos de liderança até 2025, além de zerar a diferença salarial entre homens e mulheres no mesmo período”.
Preparação para assembleias
Fábio Coelho destacou que a Amec tem apoiado investidores para se prepararem para as temporadas de assembleias das companhias podendo, assim, incluir esses temas na agenda. “Normalmente em fevereiro há uma preparação para investidores saberem como vão votar nas assembleias das empresas. A Amec organiza reuniões específicas para cada empresa para dar mais sensibilidade sobre os temas que os investidores querem se engajar”, disse. Entre os temas selecionados, as práticas ESG ganharam maior relevância na recente temporada de 2020.
Luzia disse que as gestoras têm um papel importante na questão da sucessão nos Conselhos e nomeação de administradores. “A participação nas assembleias é um trabalho que deve começar muito antes, pois muitas vezes a pauta que chega já está fechada. Deve haver uma preparação prévia e isso pode ocorrer via engajamento individual ou coletivo”, alertou. Por isso, há um trabalho prévio a ser feito para saber quais são os profissionais adequados a assumirem essas posições, e a Amec nos auxilia nessa preparação previamente”, disse Luzia.