Alfried Plöger (1939-2020) deixa legado para o mercado de capitais brasileiro
Faleceu no último dia 12 de abril, o Presidente do Conselho Diretor da Abrasca, Alfried Karl Plöger, vítima de COVID-19. Nascido na Alemanha, na cidade de Stettin, em 1939, residia no Brasil desde os nove anos de idade. O executivo foi Presidente Executivo da Abrasca entre 1997 e 2007 e continuava bastante ativo na defesa do mercado de capitais e das companhias abertas até os últimos dia de vida, contou Nair Veras Saldanha, advogada e atual Presidente da Comissão Jurídica da Associação.
“A Abrasca teve a honra de ter Alfried Plöger como presidente durante dez anos e, em sua última gestão, como presidente do Conselho Diretor, de 2017 até o momento, quando conduziu a exitosa reorganização da entidade”, disse Eduardo Lucano, atual Presidente Executivo da Abrasca.
“É com pesar que a Amec informa a seus associados do falecimento do Sr. Alfried Karl Plöger. Ele era um profissional respeitado e de personalidade forte, e isso foi marcante para mim durante reuniões no Ministério da Fazenda durante o período em que eu ainda atuava no setor público. Sua ausência gera grande perda para o mercado de capitais no país”, disse Fábio Coelho, Presidente-Executivo da Amec.
Trajetória – Com formação em economia na Alemanha, Plöger naturalizou-se brasileiro em 1980. Em agosto de
1969 ingressou na Companhia Melhoramentos de São Paulo – Indústrias de Papel, ocupando o cargo de Assistente da Diretoria Financeira, seguindo carreira na área administrativa e financeira, sendo eleito em 1984 como Presidente do Conselho de Administração, função que ocupou até 2002.
Atualmente, ocupava o cargo de Conselheiro de Administração da Melhoramentos e era atuante em diversas entidades como CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis, Associação Comercial de São Paulo e COSEC – (Conselho Superior de Economia) da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Foi como representante do CPC que ele deixou uma importante contribuição para o setor. “Ele deixou um legado importante em vários aspectos. Gostaria de ressaltar o trabalho realizado na Abrasca de convergência da IFRS na legislação contábil nacional. Foi um trabalho primoroso que ele coordenou proximamente como representante da ABRASCA no Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC)”, comenta Nair Saldanha.
Depoimentos:
Eduardo Lucano da Ponte, Presidente Executivo da Abrasca
A importância do Plöger decorre de pelo menos três características que marcaram a sua personalidade e o seu trabalho. A primeira delas era a absoluta franqueza e objetividade. Ele conseguia ser absolutamente fiel à visão dele, aos interesses da Abrasca, das companhias abertas, em oposição a outros agentes do mercado, mas de uma maneira tão elevada, tão civilizada, que essa divergência, essa diferença, não se transformava num conflito pessoal de ideias. A colocação das opiniões era feita de um modo hábil, com tato. E isso ajudava muitíssimo no relacionamento com as demais entidades do mercado e autoridades. Porque havia a capacidade de representar o interesse das companhias de uma maneira respeitosa. Uma discordância com respeito.
A segunda característica, extremamente importante para a Abrasca, que se apresentou em inúmeras situações, era a postura exemplarmente reta em relação a princípios. Plöger era uma pessoa que jamais faltou com a verdade, que subordinava toda a sua argumentação à lógica. Ele mantinha a condução dos assuntos fundamentada na razão, em argumentos consistentes e racionais. Isso também tornava o diálogo mais produtivo.
Outra característica era a sua enorme disposição para o trabalho. A gente cansou de resolver determinados assuntos bem tarde da noite. Com o material pronto, o Plöger ia rever pacientemente tudo. Ela fazia uma espécie de “plano de Estado maior”, prevendo, numa atitude de dedicação incomum, desdobramentos que aquele assunto poderia gerar. E buscava as soluções para cada um desses eventuais desdobramentos. Ele era um líder inato. E vai fazer falta.
Nair Saldanha, Presidente da Comissão Jurídica da Abrasca
Era uma referência nos momentos mais críticos, puxava para si a responsabilidade das ações, sempre com um posicionamento claro e objetivo. Expressava suas opiniões de forma simples e muito direta. Sempre enfrentava de peito aberto as questões difíceis. Quando ia falar, quase sempre colocava-se de pé, com seu característico entusiasmo, e todos o ouviam e respeitavam muito suas visões, mesmo quem tinha opiniões contrárias. Sempre manteve um diálogo construtivo com todos, inclusive com a Amec, com os investidores minoritários. Apesar da voz veemente, de cultura germânica, não me recordo de nenhum momento de indisposição com ninguém.
Tinha extrema jovialidade e bom humor. Era muito espirituoso e cativante. Juntei-me à Abrasca em 2008, em plena crise do subprime. Nestes anos todos, tivemos uma relação muito produtiva e próxima. Era uma pessoa apaixonada pela defesa do desenvolvimento do mercado de capitais no Brasil e em prol do financiamento das empresas nacionais via mercado de capitais. Estava ativo até os últimos dias de vida. Lembro que fomos juntos recentemente à Brasília para apresentar propostas à IMK – Iniciativa do Mercado de Capitais, e ele com sua atitude energética e vibrante, sempre muito engajado em levar o nosso mercado de capitais para o próximo nível.