Entrevista Marcelo Seraphim: Amec firma parceria institucional com o PRI
Em linha com um dos temas prioritários de seu planejamento estratégico para 2020, a Amec acaba de firmar convênio com o PRI – Principles for Responsible Investment. Com a nova parceria, a Associação se torna um Network Supporter dessa organização que foi criada em 2006 com o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU) com o objetivo de fomentar a utilização dos critérios ESG (Ambientais, Sociais e de Governança) nas decisões dos investidores do mercado financeiro mundial.
“A parceria entre a Amec e o PRI terá o objetivo de acelerar o avanço das discussões de sustentabilidade no país e de fomentar a disseminação de informações que permitam o maior uso desses critérios nas decisões de investimentos”, diz Fábio Coelho, Presidente da Amec.
“Pretendemos juntar esforços para promover uma agenda de trabalho entre as duas organizações”, comenta Marcelo Seraphim, Gerente de Relacionamento do PRI no Brasil. O representante lembra que a AMEC já tem se empenhado para a disseminação dos critérios ESG entre seus associados, como mostra o trabalho realizado com o Código Stewardship e outras iniciativas.
O PRI conta atualmente com mais de 3 mil signatários ao redor do mundo, que possuem em conjunto perto de US$ 90 trilhões em ativos sob gestão. Confira a seguir entrevista com Marcelo Seraphim, que comenta sobre a nova parceria, exemplos de atuação do PRI e ações globais junto aos signatários para mitigar os impactos da crise de COVID-19.
Panorama Amec – O que representa a parceria da Amec com o PRI?
Marcelo Seraphim – Em termos de governança, a parceria será muito importante para os associados da Amec, no sentido de incentivar o maior engajamento das empresas investidas na adoção dos princípios ESG. Os acionistas devem exercer cada vez mais a propriedade ativa dos investimentos e isso é possível graças ao desenvolvimento de projetos e ações de engajamento de sustentabilidade.
Panorama – Poderia citar um exemplo de como o PRI tem atuado no Brasil?
Seraphim – Uma das recentes iniciativas do PRI no país é a realização de um levantamento sobre o tema da integridade. É muito importante que os investidores cobrem a implantação de programas de integridade nas empresas investidas. Neste momento, estamos coordenando um grupo de investidores em projeto de engajamento com 19 empresas, para entendermos suas políticas e práticas de integridade nos negócios.
Panorama – Quais os tipos de ações podem ser realizadas através da parceria do PRI com a Amec?
Seraphim – São vários os exemplos. Podemos organizar eventos conjuntos, criar um fórum temático com temas ESG; promover treinamentos, ações de engajamento coletivo. O PRI também incentiva a participação ativa nas Assembleias das investidas com a perspectiva de cobrar ações para fazer valer o dever fiduciário. Também iremos convidar os membros da Amec para participar de eventos do PRI e vice-versa, além de incentivar o maior relacionamento com outros parceiros como a Abrapp, Apimec, Abvcap, entre outros.
Panorama – Pode dar mais informações sobre as formas de capacitação?
Seraphim – O PRI se propõe a atuar na capacitação e treinamento dos associados da Amec através da realização de cursos e eventos sobre investimentos responsáveis. Os cursos são realizados através de nosso braço acadêmico, o PRI Academy. Outro exemplo de capacitação é a própria organização de eventos, como ocorreu com o workshop “O Dever Fiduciário no Século XXI”, realizado no final do ano passado, em que se discutiu a inclusão de critérios ESG na Resolução CMN 4.661/2018 para os fundos de pensão.
Panorama – Como o PRI tem atuado para mitigar os impactos da pandemia de COVID-19 juntos aos signatários?
Seraphim – Ainda que a pandemia tenha gerado impactos inesperados, se comparada à do subprime, hoje temos uma comunidade de investidores mais conectada globalmente e disposta a oferecer soluções para ajudar a endereçar os problemas dela decorrentes. O PRI tem usado sua rede de contatos para ajudar a sociedade a enfrentar principalmente os impactos sociais da pandemia nas questões de saúde pública, da saúde mental e do aumento da desigualdade.
Panorama – Temos visto a Fiona Reynolds (CEO do PRI) se pronunciar com diversas orientações para enfrentar a crise atual. Você poderia destacar algumas delas?
Marcelo – De fato, Fiona Reynolds tem dedicado bastante espaço à crise de COVID-19. Em nosso blog, ela tem destacado os impactos sociais que a crise tem provocado na sociedade e propõe algumas linhas de atuação para os investidores neste momento. Ela enfatiza, por exemplo, que é fundamental não perder o foco no longo prazo, enquanto são endereçados os impactos da crise sobre os portfólios. Deve-se priorizar as questões que envolvem a pandemia, dentro dos esforços de stewardship dos investidores, notadamente quanto ao engajamento com as empresas investidas. Além disso, deve-se apoiar e atuar de forma complementar aos esforços governamentais para o estímulo da economia, preferindo sempre o viés do investimento sustentável.
Panorama – E qual o papel dos investidores na construção de um mundo pós-Coronavírus com maior valorização da sustentabilidade?
Seraphim – Fiona tem dito também que o momento favorece a realização de uma ação coletiva decisiva. Ela defende que é hora de demonstrar que o setor financeiro global pode responder à crise imediata enquanto trabalha numa recuperação que priorize os resultados sociais e ambientais. Essas ações desenvolvidas nas próximas semanas, meses e talvez até anos, lançarão as bases para uma economia global mais sustentável e voltada para os stakeholders, tem defendido a CEO do PRI.
Panorama – Como os signatários do PRI estão atuando para enfrentar os desafios da crise?
Seraphim – O PRI ofereceu aos signatários uma oportunidade de troca de informações e experiências de forma a criar sinergias e alavancar esforços entre os investidores, na mitigação dos efeitos da pandemia. Por meio da Plataforma de Colaboração do PRI, foram criados dois grupos de discussão: um deles com o foco nas soluções para problemas mais prementes, de curto prazo, como por exemplo, alternativas para diminuir impactos para os funcionários das empresas investidas, ou a prioridade no pagamento às pequenas empresas. O outro grupo tem o objetivo de discutir ações estruturantes para proporcionar mais resiliência ao sistema financeiro global.