Day after: Gestores avaliam as perspectivas dos próximos passos
Com a expectativa de picos da pandemia de COVID-19 nas grandes cidades brasileiras, gestores fazem conjecturas sobre como será o mercado no “dia seguinte”. E reconhecem que não é tarefa nada fácil devido à complexidade e ineditismo do cenário atual global.
Marcos de Callis, estrategista da gestora Hieron e membro do Conselho da Amec, recomenda prudência e avalia que estímulos já começaram a fazer efeito: “Estamos vivendo um momento sem precedentes. Comparar a retomada dessa situação com outras crises é, no mínimo, temerário. No entanto, já se pode observar que estímulos monetários e fiscais implantados pelo governo já estão produzindo efeitos, com a recuperação de praticamente todos os mercados, com exceção de moedas e commodities”.
Fernando Fanchin, gestor da Teorema Capital, concorda que o pior da crise já passou, mas que a recuperação geral será muito lenta. Fanchin estima que a queda do PIB da economia brasileira será bastante severa em 2020, acima dos 5% negativos, podendo superar até mesmo dois dígitos.
Mudanças setoriais
De Callis avalia que é um triste admitir, mas que alguns países irão se recuperar mais rapidamente que outros. E mesmo dentro de cada país alguns setores sociais mais favorecidos irão se sair melhor que outros no day after. Em sua avaliação, setores de tecnologia, e-commerce e logística, ganharão cada vez mais relevância.
No entanto, Fanchin prevê que o setor de viagens em geral, que inclui os meios de transporte, especialmente o aéreo, não voltará ao “normal” depois da quarentena. “Haverá uma queda estrutural. Diversas atividades já se adaptaram ao sistema de trabalho remoto e o próprio tamanho dos escritórios será menor”, comenta. Ele diz que será muito comum o conceito de bancada, sem mesa exclusiva, nos escritórios corporativos e isso representará forte impacto negativo para o mercado de lajes corporativas.
O gestor da Teorema avalia ainda que outros mercados terão recuperação bastante lenta, como eventos, shoppings e rodovias. “O mercado de eventos em geral tem sofrido muito, mas prevemos que a demanda vai se recuperar paulatinamente”, diz.
Diante das incertezas da velocidade e direção da retomada, De Callis revela que sua gestora, que atende vários family offices, tem adotado postura mais defensiva. “Estamos preservando ou até aumentando o caixa das carteiras. Adotamos postura de evitar ativos de crédito mais arriscados, considerando apenas os de maior qualidade. Vamos promovendo um rebalanceamento das carteiras com muita cautela”, diz.
Operação das equipes e Participação remota em Assembleias
Quanto ao funcionamento das assets, que o Panorama Amec tem mostrado nas últimas edições, a Hieron está funcionando 100% em home office desde o dia 20 de março. “Estamos todos trabalhando em nossas casas. Realizamos dois calls diários da equipe de gestão, um de manhã na abertura, e outro no final da tarde. E outras duas reuniões semanais de caráter mais administrativo”, diz Marcos de Callis.
Um aspecto interessante apontado pelo gestor é que houve aumento da qualidade e da eficácia das reuniões por videoconferência. Isso vale também para as reuniões com os clientes. “Tenho a sensação de que a qualidade das videoconferências hoje é muito melhor que antes, não apenas pela questão tecnológica, mas pela dinâmica atual, com um contato mais direto entre os participantes”, comenta.
Fanchin comenta que a gestora Teorema além de conseguir manter a qualidade em seu funcionamento em home office, conseguiu aprimorar aspecto importante da gestão de suas por meio de participação remota nas assembleias das investidas. “A temporada de assembleias deste ano está correndo com bastante tranquilidade. Conseguimos enviar todos os votos desde o home office. Foram 11 assembleias que fomos bem atendidos pelo boletim de voto das empresas”, conta Fanchin.