Amec discute avanços da agenda ESG no Brasil
A Comissão Técnica (CT) da Associação dos Investidores de Mercado de Capitais realizou apresentação e debate sobre princípios ESG e contou com a participação de Maria Eugênia Buosi, Sócia-Fundadora da Consultoria Resultante. Com experiência de mais de 15 anos no segmento, tendo atuado como gestora do ABN-Amro e do Santander, a especialista apresentou o histórico e cenário atual sobre a utilização dos princípios socioambientais e de governança no Brasil e no mundo.
“É um tema que cada vez mais faz parte da gestão de risco dos investidores, não apenas como agenda paralela, ou de marketing institucional, mas efetivamente para a tomada de decisões e controle de risco das carteiras”, disse Maria Eugênia.
Busca por padrões mínimos
O Presidente-Executivo da Amec, Fábio Coelho, ressaltou que o tema vem ganhando relevância no Brasil e no mundo em diferentes níveis. Na Europa o assunto é muito quente e a análise da evolução nos principais mercados europeus pode fornecer pistas importantes para apontar caminhos para o Brasil.
Ele sublinhou a importância de se contar com padrões mais adequados para a apresentação das informações das ações e políticas ESG pelas companhias. Coelho lembrou que foi apresentada uma proposta ao governo no âmbito da IMK – Iniciativa do Mercado de Capitais, justamente com esse objetivo. “Estamos aguardando uma sinalização do Ministério da Economia. Não queremos ter de buscar exaustivamente formulários de referência para encontrar as informações pertinentes”, comentou, que defende o surgimento de uma regulação específica para resolver o problema.
Maria Eugênia disse concordar que muitos relatórios de empresas são bem apresentados esteticamente, mas quando se procura uma informação relevante do tema socioambiental, não há informações adequadas. A consultora defendeu a necessidade de uma maior capacitação das áreas de sustentabilidade e marketing, e engajamento do RI (Relações com Investidores) e do CFO (Chief Finance Officer) para fornecer informações mais adequadas para os investidores.
Linha do tempo
Para apresentar o histórico do tema no país, Maria Eugênia utilizou uma linha do tempo desde o surgimento da agenda socioambiental, há duas décadas, passando pelos principais marcos no exterior. Ela citou a criação do primeiro índice de sustentabilidade, o Dow Jones Sustainability Index, ainda no final de década de 90. Um dos marcos no Brasil foi o lançamento do Fundo Ethical, do Santander em 2001.
A especialista analisou que a crise de 2008 representou um atraso na evolução do tema, justamente quando o segmento estava decolando. Com a crise atual de COVID-19, ela espera que aconteça o oposto e que os critérios sejam reforçados na análise e tomada de decisões pelos investidores.
Maria Eugênia explicou que a tendência mais recente do segmento é o de compliance, em busca de conformidade com as práticas socioambientais e de governança corporativa. “Meu entendimento é que devemos avançar além do controle. Quem ainda não olhava, passará a olhar a partir de uma regulação específica”, disse.
E citou um exemplo no Brasil, que é a publicação da Resolução CMN 4.661/2018, que traz regras de investimentos para fundos de pensão, estabelecendo critérios socioambientais e governança na tomada de decisões. A norma vem impulsionando a adequação das assets que trabalham com o setor de fundações para que adotem os princípios ESG em suas políticas.
Movimentos recentes
A consultora explicou que questões sociais ganharam maior relevância com o advento da pandemia, com a ênfase na análise das relações das companhias com seus colaboradores e fornecedores. Ela citou ainda que na análise dos critérios ambientais, as assets estrangeiras dos principais mercados estão dando cada vez mais importância para as recomendações da TCFD – Task Force on Climate-Related Financial Disclosures. “O TCFD são as letras mágicas que estão permeando as discussões do sistema financeiro. Os bancos estão seguindo essas recomendações que servirão como âncora para a maior parte do mercado”, disse Maria Eugênia.
Maria Eugênia mencionou algumas iniciativas interessantes para o mercado brasileiro. Uma delas é a criação do índice de ações CDP Brasil, a partir de uma parceria da ONG inglesa CDP e da Consultoria Resultante. O índice é construído com a utilização de questionários alinhados com a TCFD.
Em relação aos critérios sociais, uma sigla que se sobressai nas discussões do segmento é ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – que criou uma “agenda do bom senso”, como definiu a consultora. São objetivos amplos que envolvem as áreas de saúde, educação, igualdade e trabalho digno do ponto de vista econômico-financeiro.
Atitude dos investidores
Além dos avanços regulatórios para exigir maior transparência na prestação de informações pelas companhias, outra frente para alcançar o aperfeiçoamento das práticas relacionadas ao ESG é o engajamento dos investidores. Um exemplo citado pela consultora em sua apresentação é a atuação dos fundos soberanos da Noruega que excluiu empresas brasileiras de sua carteira após identificar problemas ambientais e de governança.
No Brasil, a consultora ressalta um exemplo entre os fundos de pensão, que é o da Funcesp que passou a adotar um modelo de análise mais integrado para a tomada de decisões das carteiras de renda variável, renda fixa e private equity. “É importante que a integração dos critérios esteja incorporada à análise dos ativos de maneira integral”, disse Maria Eugênia.
A consultora ressaltou ainda a importância da atuação da Amec na questão do engajamento sobre o tema. Neste sentido, a Associação fechou recente parceria com o PRI – Principles of Responsible Investment – para atuar como Network Supporter no Brasil (leia mais). “Os investidores têm um papel fundamental para avaliar se as companhias estão com as políticas ASG realmente integradas em sua gestão”, disse a especialista.
O papel dos investidores também é relevante no engajamento em relação à companhias. “Outra estratégia importante é o exercício do voto, levando em consideração os compromissos com a estratégia investida”, comentou. Ela explicou que o encorajamento das melhores práticas socioambientais e de governança geram valorização para a carteira e para o desempenho das empresas ao longo do tempo.