Entrevista Piero Minardi: Indústria de Private Equity impulsiona movimento de abertura de capital na Bolsa
O Presidente da Associação Brasileira de Venture Capital e Private Equity (Abvcap), Piero Minardi, aborda a importância da atuação do setor na retomada da economia brasileira neste cenário de pandemia. Em entrevista exclusiva ao Panorama Amec, ele destaca que metade dos IPOs (Initial Public Offering) desde 2006 foi realizada por empresas investidas pelos fundos de Private Equity (PE) e Venture Capital (VC). E a mais recente onda de IPOs continua com expressiva participação dos fundos de PE.
Head da gestora Warburg Pincus na América Latina, o executivo ressalta o trabalho de aperfeiçoamento da governança realizado pelos gestores de Private Equity na administração das empresas fechadas. “Vejo que os fundos de Private Equity vêm desempenhando um papel fundamental na preparação das empresas, para que elas pudessem ingressar na Bolsa mais estruturadas, mais prontas”, disse em trecho da entrevista.
Minardi fala também sobre o esforço de reaproximação promovido pela Abvcap junto aos fundos de pensão e demais investidores institucionais em relação aos fundos de PE. Devido a problemas pontuais do passado, muitas fundações deixaram de analisar e investir através desses veículos. “Temos feito um trabalho de diálogo intenso em nosso comitê de investidores junto aos fundos de pensão para mostrar os bons retornos que propiciamos, com elevada governança corporativa na gestão”, comentou o Presidente da Abvcap. Leia a seguir a entrevista na íntegra:
Qual o papel da indústria de Private Equity e Venture Capital na retomada da economia brasileira no cenário de pandemia?
Em primeiro lugar é importante fazer uma distinção entre os dois veículos. O private equity tem um papel de financiar empresas maiores, muitas delas acabam promovendo a abertura de capital, após um período de maturação. Metade dos IPOs desde 2006 vieram de investimentos de fundos de private equity e isso continua acontecendo com a recente onda de IPOs. Já o Venture Capital tem um papel de financiar o empreendedorismo brasileiro, que ainda está atrasado por aqui.
Como tem sido a contribuição do segmento de Venture Capital para a modernização da economia e das empresas brasileiras?
O Venture Capital está ajudando a modernizar o país, que precisa de muito empreendedorismo com a utilização de tecnologia aplicada. Os dois veículos em vários momentos acabam se sobrepondo e ambos representam o capital que precisa tomar risco de verdade. São fundos que investem em um horizonte de longo prazo, com 5, 6 ou até 10 anos e têm importância fundamental para o setor produtivo.
Poderia analisar o papel dos Private Equity na recente onda de IPOs verificada neste ano de 2020?
A nova onda de IPOs é muito significativa. E vejo que os fundos de Private Equity vêm desempenhando um papel fundamental na preparação das empresas, para que elas possam ingressar na Bolsa mais estruturadas, mais preparadas. Para que as empresas possam entregar aquilo que prometeram aos investidores. Acredito que as empresas que passam por Private Equities chegam, na média, em melhores condições para a abertura de capital.
E de que maneira essa indústria atua para promover uma melhor preparação das empresas investidas em termos de governança?
Os gestores dos fundos em geral incentivam as boas práticas de governança. A indústria de Private Equity representa um setor maduro, com mais de 20 anos de existência. A grande maioria dos fundos tem experiência para auxiliar as empresas na preparação para o IPO. Além disso, a Abvcap tem realizado uma série de ações junto à B3, Anbima e IBGC, com a promoção de eventos e cursos preparatórios.
Poderia analisar a evolução do mercado de capitais e da Bolsa com os novos IPOs?
Sem dúvida a queda das taxas de juros tem promovido uma forte migração dos investimentos para a renda variável. Eliminou-se a distorção que existia anteriormente em relação aos juros muito altos. Hoje temos três vezes mais investimentos em Bolsa que tínhamos há alguns anos atrás. Vemos uma demanda local muito forte. Vemos hoje maior representatividade na Bolsa, de empresas da economia real. Antes, praticamente não existia opções de empresas de saúde, hoje já temos operadoras de planos de saúde e de drogarias, por exemplo. Também começam a aparecer opções de tecnologia.
E como analisar a participação dos fundos de pensão e dos investidores locais nos Private Equity?
Temos realizado um trabalho forte junto aos fundos de pensão e demais investidores institucionais, atuando através de nosso comitê de investidores para promover o aperfeiçoamento do setor e intercâmbio de experiências. Os fundos de pensão têm a necessidade de diversificar suas carteiras e, por isso, surge a necessidade de investir em outras classes de ativos fora da renda fixa. Ficar apenas alocado em juros não é mais suficiente para bater as metas atuariais. Os investidores estrangeiros são os que aproveitam os bons resultados de nossos fundos. E agora chegou a vez dos investidores locais.
Mas por que as fundações ainda mostram resistência em alocar recursos nos fundos de Private Equity?
Houve um momento difícil em relação à indústria. É aquela história da maçã podre que contamina as outras. Foram dois ou três fundos que usaram mal os recursos. Mas não dá pra colocar tudo no mesmo saco, pois a grande maioria, entrega bons resultados sem nenhum problema. Temos feito um trabalho de diálogo intenso em nosso comitê de investidores junto aos fundos de pensão para mostrar os bons retornos que propiciamos, com elevada governança na gestão. Procuramos explicar que foram feitos um mal uso dos FIPs [Fundos de Investimentos em Participações] que se passaram por Private Equities, mas que nem eram de nossa indústria.
E o que falta para trazer esse investidor de volta ao PE?
Olha, estamos prontos para entregar bons resultados. Assim como entregamos para os investidores estrangeiros, também podemos entregar para os investidores locais. Necessitamos reconstruir essa história com os investidores fundos de pensão. Estamos buscando essa reaproximação. Estamos mostrando que somos uma indústria madura, séria, e que ganhou muito mais que perdeu nos últimos anos.
Como analisa a postura dos órgãos de regulação e fiscalização em relação aos fundos de pensão?
A Previc [Superintendência Nacional de Previdência Complementar] tem uma atuação importante de fiscalização. Mas buscamos um maior alinhamento em relação aos investimentos em Private Equity. O regulador vem atuando com uma mão muito pesada nesta questão. Estamos buscando maior alinhamento para explicar o que é a indústria, quais os parâmetros que utilizamos. Mas a pressão sobre os fundos de pensão é muito forte. Acaba limitando o apetite dos fundos. É um trabalho que temos que continuar realizando.
Poderia analisar a ascensão das questões ESG e a atuação da Abvcap em relação a estes critérios?
Já realizamos iniciativas há muitos anos. O “G” de governança é algo muito antigo e sempre presente em nossa Associação. Por exemplo, a Abvcap ajudou na construção do Novo Mercado da Bolsa. No “S” de social também temos fortalecido nossa atuação, com estímulos à maior diversidade nos conselhos das empresas. Esta é uma tendência mundial que os fundos estão fortalecendo também. Já o “E” de ambiental vejo que está ganhando muita força e os fundos de Private Equity também irão liderar essa agenda. Os gestores tendem a realizar uma diligência muito pesada em relação às empresas na questão ambiental. Temos falado que é necessário ir muito mais além do discurso. É necessário realizar ações concretas na comunidade de stakeholders a favor de maior igualdade.