Perspectivas para 2021 com Walter Mendes

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Em relação aos temas de atuação, espero que 2021 seja um ano de consolidação da abordagem ESG no mercado de capitais brasileiro. Dentro os pilares do ESG, destaque não só para boas práticas de Governança Corporativa – o “G” da sigla e que está no espírito e na inspiração de criação da Amec – mas também para o respeito à preservação ambiental, a preocupação social e o relacionamento justo com stakeholders.

WALTER MENDES DE OLIVEIRA FILHO
Walter Mendes. Foto: Divulgação.

Sem dúvida, continuaremos a atuar como um fórum de discussão, de alerta e de formulação de propostas para o aperfeiçoamento da governança corporativa das empresas abertas. Esse é nosso propósito e missão, reconhecendo que as boas práticas de governança corporativa são um fator de sustentabilidade do mercado de capitais.

Nesse campo, temos visto de tempos em tempos tentativas de retrocesso nos avanços de práticas de governança já obtidas, demonstrando a importância da vigilância e atuação tempestiva. Essas tentativas ocorrem tanto por meio de mudanças na legislação, como por meio de iniciativas dos próprios acionistas controladores ou, no caso de Corporations, dos acionistas relevantes.

Provavelmente, isso continuará em 2021, particularmente no que se refere ao direito de voto de acionistas com interesses particulares nas matérias a serem deliberadas em Assembleias. Seria muito importante para o mercado que houvesse neste ano uma definição precisa do assunto pela CVM, que tem oscilado nas interpretações sobre o tema.

Outro ponto relevante de aperfeiçoamento da governança, ainda que de caráter mais difuso e difícil de endereçar, é o da qualificação dos Conselhos de Administração das empresas sem controle definido, cada vez mais presentes em nosso mercado. O desafio dos Conselhos nessas empresas é bem mais complexo, pois exige o aprofundamento na fiscalização da gestão e na orientação dos objetivos estratégicos das empresas. Um Conselho mal preparado é facilmente cooptado pela gestão, que pode privilegiar seus próprios interesses, em detrimento dos da empresa. Espero que os exemplos negativos dos últimos anos possam incentivar os investidores institucionais a se concentrar na responsabilidade de formar conselhos tecnicamente competentes e alinhados com as melhores práticas de governança corporativa.

Nas questões sociais e ambientais do ESG, a Amec tem incorporado essas preocupações nas pautas de discussão e nas ações da associação. O mercado brasileiro passou, ainda que com atraso, a dar maior importância a esses temas. O ano passado foi um marco nessa nova atitude, sendo a relevância dada pelo Fórum de Davos ao assunto, o provável estopim dessa mudança.

Nos aspectos sociais, há muito o que desenvolver, mas um dos campos que a Amec certamente atuará em 2021 será o da diversidade de gênero nos Conselhos. Já há iniciativas consolidadas nesse assunto, nas quais a associação tem se inserido. Outras questões sociais a serem consideradas nas atividades corporativas, já constituem maiores desafios para a atuação da instituição, mas deverão ser paulatinamente acessadas.

Os aspectos de respeito às políticas de preservação do meio-ambiente, já há muito tempo deveriam ser objeto de maior atenção dos investidores brasileiros, seja pela presença tão relevante de empresas da área de commodities no mercado brasileiro, seja pelos trágicos eventos já ocorridos em empresas abertas.

Ainda temos muito o que evoluir em relação ao acompanhamento desses aspectos ambientais por parte dos analistas e gestores de carteiras. Mas, é preciso reduzir esse gap em relação aos mercados desenvolvidos, particularmente os europeus. O maior desafio é a mensuração desses aspectos, de forma a incorporá-los à política de investimentos e não apenas trabalhar simplisticamente com listas negativas.

Nesse quesito, os campos de Governança e Meio-Ambiente se conversam. Dependendo da inserção das áreas de risco e compliance no organograma corporativo, assim como da forma como essas áreas são acompanhadas pelo Conselho de Administração e seus comitês de assessoramento, pode-se verificar a relevância desses temas na empresa e os riscos aos quais ela está exposta ao “E” do ESG.

A Amec certamente continuará se empenhando para fomentar a abordagem ESG entre os seus associados e apoiará as iniciativas voltadas ao aperfeiçoamento de todos os aspectos do tema e à sua disseminação no mercado brasileiro, em especial nas assets e fundos de pensão. Essa postura é cada vez mais relevante para garantir a sustentabilidade do nosso mercado.

A participação do mercado brasileiro de ações no principal índice de mercados emergentes é hoje apenas um terço daquela alcançada nos bons tempos do Brasil Investment Grade. Espero que nossos investidores não se conformem com essa situação e busquem cada vez mais cobrar das empresas o fechamento dos gaps de governança, de políticas de preservação ambiental e de aspectos sociais e de relacionamento com stakeholders, que colaborem para a sustentabilidade do nosso mercado e o aumento da sua representatividade internacional.