Entrevista: Projeções eleitorais apontam para diferentes cenários de reformas
O início da disputa eleitoral foi antecipado para este final de ano. A disputa segue polarizada entre dois candidatos, porém, o grau de incerteza permanece alto e nem mesmo a opção da chamada “terceira via” está descartada. A deterioração de indicadores macroeconômicos, sobretudo, a manutenção da inflação em nível elevado, pode promover uma queda na aprovação do governo atual e abrir espaço para nova opção, aponta o consultor Silvio Cascione, Diretor da Eurasia no Brasil.
Em entrevista exclusiva ao Panorama Amec, o especialista aborda as perspectivas para os diferentes cenários eleitorais e as projeções para o risco fiscal e as reformas estruturais. “Sem dúvida, após as eleições, as reformas serão retomadas. E o principal foco deve recair sobre a Reforma Tributária, que será discutida no Congresso, nos Estados, Municípios e pelo setor privado. Isso acontecerá independente de quem vença a eleição”, disse em trecho da entrevista. Confira na íntegra a seguir:
O que se pode prever do cenário eleitoral que, em certa medida, teve o início antecipado ainda em 2021?
As pesquisas eleitorais ainda não dizem muito. A maioria das pessoas não está acompanhando o cenário e ainda não possui decisão firme sobre o voto. O retrato atual indica um segundo turno entre Lula e Bolsonaro, com tendência de forte polarização.
Como avalia a possibilidade de surgimento de uma terceira via com perfil de centro?
As chances existem, mas diria que são baixas no momento atual. O ex-presidente Lula tem seu eleitorado mais fiel. Bolsonaro ainda mantém uma aprovação razoável. Se a aprovação dele não cair mais, a chance de aparecer uma terceira via com chances reais é difícil. Agora se a aprovação cair muito, claro que aumentar as chances de um terceiro nome dentre os vários disponíveis.
Como a volta da pressão inflacionária e o fraco desempenho da economia influenciam a corrida eleitoral?
O retorno da inflação, sem dúvida, tem um efeito negativo em termos de popularidade. Mas é preciso esperar para ver se continuará em 2022. A inflação alta provoca uma queda da renda. É muito ruim para o governo atual. Se persistir esse cenário ou até se houver agravamento, aumentam as chances de Bolsonaro ficar fora do segundo turno. Porém, se houver reversão do quadro, se a inflação cair, logo virá o reajuste do salário mínimo, e sua popularidade pode voltar a aumentar.
Poderia avaliar o cenário para o risco de desequilíbrio fiscal dentro do contexto eleitoral?
Com um novo mandato de Lula, haverá mudanças importantes, com uma nova visão do papel do estado na economia. É uma visão que defende um estado mais atuante na economia. Já com a continuidade do governo atual, deve continuar abrindo espaço para o investimento privado, evitando crescimento dos gastos públicos. Um governo de esquerda, sem dúvida, tem outra mentalidade, defende um papel mais ativo para o estado na economia, com maior concessão de crédito, maior regulação de combustíveis, enfim, com maior grau de intervenção. Será proposta a modificação da regra do teto de gastos, que mesmo hoje, já se mostra insustentável.
Quais as perspectivas para as Reformas para o próximo ano e para o cenário pós-eleitoral?
As reformas para o próximo ano têm uma chance muito pequena para avançar por causa da disputa eleitoral. O que pode acontecer, é a apresentação de propostas para o Congresso. Por exemplo, nada impede que se apresente um projeto de privatização da Petrobras. Isso deve gerar um grande debate nas eleições, mas dificilmente haverá aprovação de algo assim.
E no cenário pós-eleitoral, qual sua expectativa em relação às reformas?
Sem dúvida, após as eleições, as reformas serão retomadas. E o principal foco deve recair sobre a Reforma Tributária, que será discutida no Congresso, nos Estados, Municípios e pelo setor privado. Existe uma necessidade de simplificar o modelo tributário brasileiro para permitir maior produtividade na economia. Isso acontecerá independente de quem vença a eleição. Haverá retomada da discussão sobre o Imposto de Renda, dividendos, ICMS entre outros temas.
Mas serão propostas diferentes dependendo do próximo governo, não é mesmo?
Sim, claro, o governo atual deve insistir nas mudanças para o IR e os dividendos. Se for o candidato da esquerda, haverá outro viés, com um sistema mais progressivo para aumentar a arrecadação. Além da Reforma Tributária, tem também a Reforma Administrativa que o governo atual também tem interesse que avance, assim como um eventual presidente da terceira via, seja Moro ou Dória.
E quais as perspectivas para o mercado de capitais?
Em 2022, o mercado de capitais ainda pode contar com avanços regulatórios, que não dependam do Congresso. Por outro lado, o risco político deverá afetar a performance dos ativos. O cenário eleitoral vai determinar o risco fiscal e isso promoverá maior volatilidade ao mercado. Será um cenário pautado pelas eleições, com uma possibilidade de forte competitividade. É provável que mercado fique em compasso de espera, por exemplo, para novas aberturas de capital das empresas.