Pesquisa do IBGC, SpencerStuart e B3 dá o panorama da remuneração de conselheiros no Brasil
No dia 30 de janeiro, o IBGC promoveu o evento de lançamento da 6ª edição da sua Pesquisa de Remuneração de Administradores. O estudo é uma parceria do instituto com a B3 e a Spencer Stuart.
O estudo faz parte da série IBGC Pesquisa e tem como objetivo – além de contribuir para a melhoria dos padrões de governança no país – apresentar informações sobre a remuneração dos conselheiros de administração, conselheiros fiscais e diretores estatutários das empresas listadas no Brasil, servindo de base para a tomada de decisões de companhias e investidores sobre o tema.
“A ideia é que esse material possa servir como uma referência para o mercado, e que ajude as empresas e seus investidores durante as votações nas assembleias, quando o tema remuneração entra em pauta”, explica a superintendente geral do IBGC, Heloisa Bedicks, que complementa: “a remuneração dos administradores é um tema que, no Brasil e no mundo, vem chamando a atenção dos agentes de governança e de outras partes interessadas, refletindo a responsabilidade das empresas no que diz respeito à melhoria do ambiente de negócios, bem como seu impacto na sociedade.”
“Um sistema de remuneração adequadamente estruturado pode ser um dos mais importantes mecanismos de atração, motivação e retenção de bons administradores e de alinhamento de seus interesses aos da organização. Por outro lado, um sistema equivocado pode comprometer todo esse processo, culminando em persecução de metas e objetivos inadequados, foco excessivo nos resultados de curto prazo ou incapacidade de atrair e reter bons profissionais, entre outros possíveis problemas”, avalia presidente do conselho de administração do IBGC, Emilio Carazzai.
Para a composição da pesquisa, foram consultadas 256 empresas listadas das cinco regiões do país e integrantes dos vários segmentos de governança corporativa (Novo Mercado, Nível 2 e Nível 1) e no segmento Tradicional da B3.
O estudo também apresenta informações sobre remuneração variável, obtidas a partir dos dados de 55 empresas do IBOVESPA. Segundo Heloisa, a ausência de remuneração variável para seus diretores e presidente em parte das empresas foi algo que chamou a atenção na pesquisa. “Um quarto das companhias não adotou essa política quanto ao pagamento de seus executivos, vinculada ao indicador de desempenho.”
Chama atenção também que quase 80% das empresas pagam exclusivamente remuneração fixa aos seus conselheiros.
A pesquisa apresenta dados públicos referentes ao exercício social de 2016, disponíveis nos Formulários de Referência apresentados pelas empresas em julho de 2017. Pela primeira vez, o documento faz a análise de aspectos da remuneração variável utilizados pelas empresas, com um olhar mais detalhado sobre os indicadores aos quais ela está atrelada.
No estudo, estão disponibilizados dados referentes à remuneração média anual dos administradores, distribuição das empresas conforme a estrutura de remuneração adotada e uma análise dos dados por macrorregião do Brasil.
Há também informações sobre as empresas que fizeram uso da liminar do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Rio de Janeiro (IBEF-RJ) para a não divulgação dos dados de remuneração.
A Amec participou do evento na qualidade de debatedora, ressaltando o anacronismo das instituições que defendem a redução da transparência na questão da remuneração. “A CVM nos tirou da Idade da Pedra quando determinou a publicação das faixas de remuneração por órgão da administração. Ainda assim, se trata de prática muito aquém daquela já aplicada em outros países, nos quais a remuneração individual dos administradores é publicada em detalhe. A ação judicial do IBEF nos traz de volta não mais ao paleolítico, mas sim ao período jurássico na matéria. Dizer que publicar a remuneração fere direitos constitucionais é um equivoco tão grande quanto dizer que existam direitos absolutos. Se alguém deseja privacidade, que trabalhe em companhias de capital fechado. Se quiser trabalhar em empresas que captam recursos do público, que preste contas, como ocorre no resto do mundo”. O contraponto à Amec foi feito pela representante da Abrasca, que defendeu a iniciativa do IBEF.
Em sua palestra, o sócio da Spencer Stuart, Fernando Carneiro comentou que “em 17 anos de prática de buscas de executivo, jamais a publicidade da remuneração foi um empecilho para concluir uma colocação. Para mim, se trata de um non issue”.
Dentre os achados da pesquisa, destacam-se (1) a remuneração dos membros de conselhos de administração subiram menos que a inflação entre 2013 e 2016 (15,5%, contra um IGP-M médio de 26,83%); (2) menos de 10% dos conselhos possuem sistemas de remuneração baseados em ações e (3) é grande o nível de inconsistências e erros de preenchimento do Formulário de Referência por parte das empresas.
Entre as empresas integrantes do IBOVESPA, os dados apontam que elas usam, em média, 4,3 indicadores de desempenho em sua política de remuneração variável, sendo EBITDA, Resultado Operacional, Lucro Líquido e Receita Operacional os mais frequentes, representando 40% de utilização.