Assets mantêm funcionamento normal com maioria das equipes em home office
As empresas de asset management estão conseguindo manter o funcionamento praticamente normalizado tanto na parte operacional quanto na gestão dos fundos de investimentos desde o advento da pandemia da COVID-19. As equipes estão trabalhando, em grande parte, no regime de home office, deixando uma estrutura mínima de profissionais de gestão ou operacional com presença no escritório.
“Pelo que estou percebendo, a maioria das assets está operando com a maior parte da equipe em home office. Isso vale tanto para as independentes que possuem equipes menores, quanto para as maiores ligados aos bancos”, diz Paulo Corchaki, Fundador e CEO da Trafalgar e membro do Conselho Deliberativo da Amec.
No caso de sua asset, Corchaki diz que apenas 3 ou 4 profissionais continuam frequentando o escritório, metade da área operacional e outra metade, de gestão. O restante dos colaboradores trabalha de casa com acesso aos computadores à distância pelo sistema VPN (Virtual Private Network). “O trabalho home office ocorre com os laptops da empresa que possuem todas as configurações de segurança necessárias”, diz.
Neste sistema, é necessário manter o computador do escritório ligado para permitir o acesso remoto, por isso, ainda é preciso manter um ou dois colaboradores da área operacional no escritório. Tendo atuado por muitos anos em assets maiores como o Itaú e a UBS, o gestor acredita que as empresas ligadas aos conglomerados financeiros devem manter um sistema parecido com as assets independentes.
O CEO da Trafalgar explica ainda que é necessário manter também pelo menos uma ou duas pessoas da gestão no escritório, caso seja preciso recorrer ao link dedicado de internet. Isso pode ocorrer caso a internet doméstica tenha alguma falha. As reuniões das equipes continuam funcionando diariamente, através de videoconferência. O mesmo sistema também atende aos clientes que pedem reuniões para acompanhamento ou para vendas.
A BB DTVM, por exemplo, é uma asset que também liberou a maior parte dos colaboradores para o trabalho home office. Só uma parte menor da equipe de gestão e do operacional continua frequentando presencialmente o escritório. “A BB DTVM está trabalhando de home office para juntos combatermos a disseminação do Coronavírus”, diz comunicado. A asset entrou em contato com os clientes e parceiros para informar os canais diretos e os colaboradores responsáveis pelo atendimento de cada segmento. Todas as operações e serviços de relacionamento continuam funcionando durante a pandemia, informa a área de comunicação da empresa.
Antes da quarentena – André Gordon, Sócio e Chefe da Gestão da GTI e Vice Presidente da Amec comenta que sua asset tinha liberado metade da equipe de colaboradores antes mesmo do Decreto da quarentena de São Paulo. “Já tínhamos liberado todos que dependiam de transporte público e aqueles com mais de 50 anos de idade”, diz. Depois do Decreto, foram liberados todos os colaboradores das áreas operacional, administrativa e comercial. Ficaram apenas alguns integrantes da equipe de gestão, com 3 ou 4 pessoas.
“Somos um time de gestão relativamente pequeno. Temos a vantagem de contar com um escritório grande, então, podemos manter uma distância de mais de 3 metros entre uma mesa e outra”, diz Gordon. A vantagem é que a empresa funciona em um prédio que atualmente não tem quase nenhum escritório funcionando, o que é considerado positivo para evitar o contato social.
Ele ressalta que as operações estão praticamente normais, pois todo o back-office já rodava antes na nuvem, sempre mantendo as condições de segurança com o uso de senhas e sistema token. O pessoal do administrativo também está funcionando com 100% das operações, controle do passivo, uso da assinatura virtual, entre outras atividades. O Chefe da Gestão da GTI afirma que as outras assets com quem tem mantido contato, estão fazendo movimentos semelhantes. “Se não for 100% das operações, diria que 90% do mercado está rodando normalmente”, comenta.
Perspectivas para a gestão – Apesar da forte queda da Bolsa doméstica e da maior volatilidade dos últimos 30 anos verificada no final de fevereiro e março, as perspectivas para a recuperação da atividade econômica não são tão sombrias. Os gestores tiveram que acompanhar e trabalhar com projeções relacionadas à pandemia nas últimas semanas para traçar os cenários prováveis.
“O número de casos de COVID-19 no Brasil é muito maior que o divulgado atualmente. Isso leva a conclusão de que a letalidade é bem menor que a anunciada. Avalio que o pico da pandemia em nosso país deve estar bem próximo de acontecer”, prevê Gordon. Ele explica que países como Itália e Espanha já estão superando o pico de casos após 12 semanas.
“Acredito que o ritmo de novos casos no Brasil vai desacelerar antes que o previsto pelo governo e Ministério da Saúde. Temos uma previsão menos catastrófica que a média do mercado”, conta André. O gestor elogia ainda as medidas do Banco Central para prover maior liquidez ao sistema financeiro, com operações de crédito privado. “O Brasil foi um dos países que mais ofertou liquidez ao mercado. E agora está começando com as medidas de distribuição de renda aos menos favorecidos”, comenta. Ele projeta que o país começará a voltar às atividades paulatinamente antes do final deste mês de abril, começando com a retomada do varejo.
Precificação – Para Paulo Corchaki, o mercado de Bolsa já precificou todo o impacto negativo da pandemia. “Os preços já embutiram o cenário mais catastrófico. E agora não deve piorar ainda mais, por isso, vemos o surgimento de boas oportunidades. Temos visto muitos investidores buscando por essas oportunidades, ou seja, tem mais gente comprando que vendendo”, comenta Corchaki.
O gestor prevê um movimento de retomada em “V”, ou seja, mais acelerado, logo após ter batido no “fundo do poço”. “É o que percebemos da China que teve uma queda profunda, mas com o retorno rápido”. Ele não acredita que a recuperação do mercado se dará em formato de “U”, por causa de um prolongamento do período de lockdown.
Corchaki faz uma ressalva, porém, para o risco de uma segunda onda de contaminação, por exemplo, na China. Ele lembra que a gripe espanhola teve 3 ondas de contaminação, embora o risco atual seja bem menor. “Acredito que o COVID-19 é menos suscetível às mutações. O problema do vírus da gripe espanhola é que o vírus sofreu várias mutações e acabou voltando mais de uma vez”, comenta.
Leia as projeções e informações de outros gestores de assets nas próximas edições.