Entrevista Marcos de Callis: Compromisso com a agenda estratégica da Amec
Escolhido para a posição de novo Presidente do Conselho Deliberativo da Amec, Marcos de Callis, reafirma seu compromisso de aprofundar e fortalecer a agenda estratégica da associação. Em substituição a Walter Mendes, que continua como membro do conselho, o novo presidente do órgão de governança explica em entrevista exclusiva ao Panorama Amec sua visão sobre a ampliação da geração de valor aos associados. O executivo transmite ainda sua análise sobre o cenário atual e os principais focos de atenção sobre o mercado de capitais.
Marcos de Callis tem formação em engenharia de produção e especialização em administração e finanças. Com 37 anos de atuação na indústria de fundos de investimentos, passou por diversas casas como Citibank, HSBC, Itaú, Schroders e Banco Votorantim.
Ele ocupa uma vaga no Conselho Deliberativo da Amec desde 2017 e agora, em seu terceiro mandato, assume o posto de presidente do órgão de governança. Confira a entrevista a seguir:
Como pretende contribuir com a Amec em sua nova posição?
A primeira mensagem que gostaria de passar como novo Presidente do Conselho é o compromisso com a agenda estratégica já iniciada a partir da contratação do Fábio Coelho, ainda em 2019. Então, buscarei trabalhar pelo avanço, aprofundamento e desenvolvimento desse projeto já traçado há pouco menos de dois anos. O objetivo principal é cumprir a missão da associação de fomentar o desenvolvimento do mercado de capitais de forma mais equitativa.
E como a Amec tem atuado nessa direção de desenvolvimento de mercado e aperfeiçoamentos na relação entre investidores e empresas investidas?
Sempre que necessário, colaboramos com a agenda de aperfeiçoamos propostas pelo regulador, em especial por meio das Consultas Públicas. No caso da atuação do lado da empresa, a associação atua para melhorar a governança em operações societárias relevantes, buscando mitigar divergências ainda presentes que dividem muitos controladores e minoritários nas empresas brasileiras. Olhamos para o que é mais importante para a geração de valor para a empresa e, ao mesmo tempo, para que se possa equilibrar os interesses muitas vezes conflitantes.
Quais serão as prioridades em relação aos associados?
Do ponto de vista prático, o objetivo é dar apoio às ações que o Fábio [Coelho] tem desenvolvido em dois vetores principais. Um deles é ampliar o valor percebido que a associação traz para seus membros, no sentido de criação de valor e senso de pertencimento mesmo. Há diversas maneiras de se fazer isso, por exemplo, na geração de conteúdo de interesse, realização de eventos, criação de fóruns, webinars, entre outros. São ações que podem ser percebidas pelo associado como algo que traz valor. Em outra frente, buscamos o aumento da base de associados. Isso amplia nosso alcance e traz mais recursos para novos projetos. É fundamental contar com uma base ampla, representativa e pulverizada dos diversos segmentos de investidores institucionais do mercado brasileiro.
Qual é o público-alvo para a ampliação do quadro associativo da Amec?
Por um lado, temos realizado esforços para aumentar a presença de fundos de pensão. A experiência do Fábio como ex-presidente do regulador desse setor tem ajudado nessa interlocução. Por outro lado, ainda vemos a distância de investidores estrangeiros. Existe um desafio a ser superado que está relacionado à perda da importância do Brasil nos mercados internacionais, o que gera dificuldades para que a Amec amplie sua atuação internacional.
Temos visto um forte crescimento de gestores independentes no país. Esse público está no radar de atuação da Associação?
Com a queda das taxas de juros, a classe de ações passou a representar maior espaço na indústria de gestão de recursos e na carteira dos investidores brasileiros. Com isso, houve um crescimento importante do número de gestores independentes. É claro que é de interesse da Amec atrair esse grupo, que desde o ano passado já está sendo procurado para conhecerem as vantagens de aproximação com a pauta desenvolvida pela associação.
Como analisa o cenário de aumento dos IPOs nos últimos anos e a atuação da Amec?
Vimos em 2019 e 2020, e continuamos a ver neste ano, um movimento forte de IPOs. É o terceiro ano dessa tendência claramente impulsionada pela queda dos juros. É muito bom contar com um mercado de capitais mais dinâmico, com mais acesso para que empresas e empresários possam captar recursos para desenvolver seus projetos de negócios, tudo isso é muito positivo. Por outro lado, o cenário aquecido do mercado aumenta a responsabilidade da Amec no acompanhamento dessas operações sob o ponto de vista da defesa de melhores práticas de governança.
Um assunto recorrente no mundo da gestão de recursos é o ESG. Como a Amec tem se posicionado nesse tema?
O ESG virou uma prioridade estratégica da associação nos últimos anos. É um exemplo de geração de valor em que podemos auxiliar os associados a terem contato com melhores práticas globais, buscando entender como isso tem sido incorporado nas decisões de investimento. Lá fora, as questões socioambientais estão muito mais permeadas nas atividades dos investidores, de forma muito séria. No Brasil, temos instituições bastante avançadas, mas a maioria ainda está começando a jornada e enfrenta dificuldade. Inclusive, o Código de Stewardship está sendo repaginado para se encaixar melhor dentro dessa agenda.
Destacaria outros pontos que deveriam chamar a atenção da Amec no atual cenário?
Existem vários temas no radar. Um deles é o funcionamento dos conselhos de administração nas empresas de controle disperso, as corporations. Isso tem sido foco de atenção, supervisão e manifestação da Amec nos últimos tempos. Acrescentaria na lista a questão da governança de estatais, em que defendemos um alinhamento maior de interesses entre o Estado e os demais acionais. Além disso temos as discussões sobre o Voto Plural, que busca a criação de Super ON no Brasil. E mais recentemente, vimos a necessidade de aperfeiçoamentos na dinâmica de votação por meio do Boletim de Voto à Distância, sobretudo neste momento de pandemia em que não há praticamente reuniões físicas.