Fundos de pensão adotam medidas para enfrentar cenário de pandemia
Em decorrência da crise provocada pela pandemia de COVID-19, os fundos de pensão brasileiros passaram a adotar uma série de medidas contingenciais para mitigar os impactos do novo cenário sobre seus planos e carteiras de investimentos. Os gestores de investimentos estão procurando garantir liquidez adequada para as carteiras de modo a suportar os compromissos dos próximos meses.
“O que fizemos na Funcesp foi um ajuste nas posições de risco no começo de março da ordem de R$ 2,6 bilhões”, comenta Jorge Simino, Diretor de Investimentos da Funcesp. Ele explica que por causa da movimentação, a fundação não terá problema de liquidez para o pagamento de benefícios nos próximos 12 meses.
Walter Mendes, Presidente da Funcesp e Presidente do Conselho da Amec, enfatiza a importância da priorização do risco para a gestão da carteira de investimentos da entidade no período pré-pandemia. Com a redução das taxas de juros, existia uma pressão para aumentar a exposição aos investimentos de risco caso. Porém, como o nível de risco estava muito alto e os prêmios da Bolsa já não eram tão atraentes, optamos por priorizar o controle de risco.
“Mesmo que se invente uma vacina, ainda teremos a incógnita: será que o comportamento do consumidor vai voltar ao que era antes da crise? O consumidor vai ignorar o estresse que passou em 2 ou 3 meses e vai retornar aos hábitos anteriores? É uma dúvida que é muito difícil de ser respondida”, pondera. A Bolsa chegou a 119 mil pontos e hoje está brigando nos 78 ou 80 mil. Ainda está cara. É preciso ser muito seletivo nos ativos, segundo Simino.
Visão de longo prazo
A Previ, o maior fundo de pensão do país, sofreu forte impacto em suas carteiras de renda variável por conta de participações em grandes empresas como a Vale, Invepar, BRF, entre outras. “A carteira de ativos de boa qualidade se recupera, e a crises financeiras seguiram dinâmica em que os preços descem de elevador e sobem de escada”, comenta Marcelo Otávio Wagner, Diretor de Investimentos da Previ.
A tendência de recuperação como ocorreu em outras crises deve acontecer, mas persiste o ponto de interrogação se a retomada ocorrerá em formato de “V”, “U”, “W” ou se será ainda mais prolongada, questiona o Diretor da Previ. Ele ressalta que um fundo como a Previ, que mantém boa liquidez e qualidade de ativos, será capaz de minimizar o impacto da crise, pois não precisa vender ativos.
O Presidente da Previ, José Maurício Coelho, reforça a visão de longo prazo da fundação. “Temos obrigações de longuíssimo prazo, muitas vezes superando 50 ou 60 anos. Ao longo de seus 116 anos a Previ já enfrentou muitas crises. Entender a dinâmica dos mercados e adicionar doses de temperança na hora da crise faz com que possamos nos debruçar no que realmente importa, ou seja na preparação para a paulatina subida que certamente ocorrerá depois que tudo isso passar”, comenta.
Títulos públicos
Paulo Werneck, Diretor de Investimentos da Funcef, explica que apesar da duração dos planos ser de longo prazo, o movimento de redução das taxas de juros fez com que todo mundo passasse a assumir posições de maior risco. O dirigente indica que agora não é o momento para movimentos muito bruscos na gestão dos investimentos, sendo melhor deixar que as medidas anticíclicas façam efeito na cadeia.
Ele avalia que existe atratividade nos preços de títulos públicos. “Por segurança, e dada a incapacidade de fazermos uma previsão de futuro, essa é a melhor alocação nesse instante em função da piora do cenário fiscal. Devemos analisar como serão aprovadas as próximas medidas, mas o segredo desse momento é deixar o movimento anticíclico que o Estado deve fazer, e a partir daí podemos mensurar nosso passivo e fazer as alocações”, ressaltou Werneck.
Alexandre Mathias, Diretor de Investimentos da Petros, reforça como primeira hipótese de trabalho que há no mundo inteiro, inclusive o Brasil, a resposta das autoridades. “Se a crise atual não tem precedentes, a velocidade das respostas de medidas anticíclicas também foi inédita”, diz. O mercado correu com os pacotes de medidas e, para ele, há um certo sentido olhar para 2021 com expectativa de recuperação, seja V, mais rápido, ou U, mais lento.
“Temos de pensar que as políticas são eficientes para evitar grandes desempregos, e ficaria em 2021 em recuperação. Faz um certo sentido esse enredo, mas é um cenário hipotético, é preciso ver os dados. A minha sensação é que o mercado teve uma queda forte e súbita e que a recuperação será rápida”, comenta Mathias. O Diretor da Petros indica, porém, que é preciso aguardar um pouco mais para ter um mapeamento melhor das perspectivas futuras.
Impacto nos planos
Para Keite Bianconi, Diretora do Metrus, o mais difícil neste momento é explicar aos participantes os motivos para a oscilação negativa dos saldos, mas que apesar disso, não quer dizer que perderá dinheiro. “Tentamos explicar que o impacto é momentâneo. No longo prazo, as perdas serão ínfimas”, prevê Keite.
“No momento pretendemos ficar parados, não vamos buscar oportunidades”, revela a Diretora do Metrus. Ela diz que não haverá dificuldade de liquidez para o pagamento dos benefícios nos próximos 6 meses. Keite afirma ainda que a fundação espera a aprovação de novas medidas pelo Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC), como por exemplo a possibilidade de suspensão temporária das contribuições dos participantes e patrocinador aos planos para depois avaliar as medidas necessárias para manter a liquidez nos meses subsequentes.
Princípios ESG
Associada da Amec, a Real Grandeza vem realizando um trabalho de fortalecimento da adoção de princípios ESG na gestão dos planos e investimentos. “Temos uma presença importante na governança, stewardship, pois damos valor aos princípios ESG. Procuramos exercer a liderança entre as fundações e somos totalmente favoráveis adoção dos critérios de governança pelas empresas”, defende Sérgio Wilson, Diretor Superintendente da fundação.
Ele explica que em momentos de crise provocada pela pandemia, os princípios ESG ganham maior relevância para mitigar os riscos corporativos. O Diretor do fundo de pensão defende ainda o fortalecimento da comunicação com os participantes e stakeholders como ferramenta fundamental para mitigar os impactos da crise para os associados e na relação com o patrocinador.