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Gestoras entregam relatórios de stewardship e apresentam avanços em relação a 2017
Uma das práticas de boa gestão por parte dos investidores institucionais é a apresentação de relatórios anuais de stewardship, em que as gestoras contam o que fizeram durante o ano para garantir a boa governança corporativa das empresas em que investem. O Código de Stewardship da Amec – clique aqui e acesse – prevê que seus signatários apresentem o relatório anualmente. Até o momento, 11 signatários já entregaram o documento.
Alguns signatários já estão no segundo ano de apresentação dos relatórios. Isso permite uma análise da evolução do tema entre os investidores que atuam no mercado brasileiro. Teorema e Itaú, além da gestora norte-americana Cartica Capital, por exemplo, apresentaram avanços significativos em relação ao ano passado, comunicando de forma direta e compreensível seus esforços para promover melhores práticas de gestão nas companhias investidas.
A Teorema incluiu esse ano uma tabela em que registra sua participação nas assembleias das empresas em que investe, informando qual o representante da gestora responsável pelo voto e qual método irá utilizar para participar – se voto à distância, presencial ou procuração. Cristiana Affonso Ferreira, sócia-fundadora e diretora responsável por compliance, risco e controle da gestora disse que a Teorema vem buscando aprimorar suas práticas de stewardship e, para isso, a equipe revisou todos os manuais e políticas de gestão da asset no ano passado. “A ideia de incluir a tabela no Relatório foi justamente para registrar essa evolução e preocupação em participar ativamente, de forma diligente e transparente”, disse.
“Introduzimos a tabela de registro de Participação em Assembleias no começo de 2018 para organizar o calendário e o registro dos votos. Originalmente, a tabela visava atender uma exigência da Anbima, mas fomos percebendo a importância desse instrumento como ferramenta de governança”, explicou Cristiana. Ela afirmou, ainda, que a equipe da Teorema passou a incluir aspectos ASG nos processos de investimento e cada vez mais monitoram as companhias investidas e procuram ter uma participação ativa nas Assembleias. Além disso, também atuam via Conselho de Administração, o que permite ampliar e efetivar ainda mais as práticas de stewardship.
O relatório do Itaú se destaca pelo uso de gráficos e diagramação que facilitam o entendimento dos leitores. Renato Eid Tucci, head da área de estratégia beta e integração ASG na Itaú Asset Management, frisou que o conteúdo do documento também melhora ano a ano, refletindo a maturidade que as questões relativas a boa gestão de recursos ganha no Brasil. A gestora do Itaú conta em seu relatório que realizou engajamentos com 35 empresas de 15 setores econômicos diferentes, visando a obter informações sobre questões ambientais, sociais e de governança (ASG) e a estimular as empresas a adotarem melhores práticas. Eid conta que uma das companhias inclusive alterou sua proposta de remuneração após engajamento da gestora.
Outro ponto que Eid destaca é que a gestora tem participado de mais assembleias. Em 2017, participou em mais de 40, em 2018 em mais de 45 e, em 2019, já participou de mais de 50. Antes, a Itaú Asset Management tinha a obrigação de participar se possuísse no mínimo 5% do capital da empresa ou se 10% do patrimônio líquido de um de seus fundos de investimentos fosse composto por ações da companhia. Agora os gatilhos são de 3% e 10%, respectivamente.
A norte-americana Cartica Capital traz três casos de engajamento em seu relatório, com a empresa de logística Rumo, a companhia de alimento M. Dias Branco e a de celulose Klabin. Mike Lubrano, diretor de governança corporativa e sustentabilidade, diz que a Cartica sempre relata todos os engajamentos em que se envolve, e que, como investe em poucas companhias, consegue exercer o ativismo com mais profundidade em cada uma delas.
No caso da Rumo, a Cartica buscou influenciar a companhia para que o conselho de administração nomeasse membros com experiências diferentes, se tornando mais diverso, e passasse a analisar mais questões ASG. Na M. Dias Branco, buscou incluir membros independentes no conselho da companhia, de controle familiar. Já na Klabin, a gestora se opôs à controversa proposta da administração de comprar a marca Klabin e outras seis, de modo a pôr fim ao pagamento de royalties pelo uso do nome da família fundadora.
Lubrano diz que os relatórios de stewardship são relevantes para vários grupos, além dos investidores da Cartica. “Se as empresas começarem a ver que os investidores estão focados em boa gestão e que isso é algo consistente, elas se tornarão mais abertas ao engajamento,” diz. O documento também é uma fonte de informação importante a outros públicos que interagem com a companhia, como funcionários e grupos que se preocupam com responsabilidade da cadeia de fornecedores, segurança dos trabalhadores e diversidade dos conselhos de administração. “Por meio dos relatórios, eles podem perceber que, muitas vezes, os acionistas são aliados dessas causas,” diz Lubrano.