Lideranças empresariais impulsionam agenda ambiental e interlocução com governo
Um grupo de cerca de 60 CEOs das maiores companhias brasileiras estão movimentando a reação da sociedade civil quanto à atuação do Governo Federal na questão das mudanças climáticas no país. Organizados no Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), associação fundada em 1997 e que vem ganhando força nos últimos anos, os empresários protagonizaram um importante diálogo com os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
Em carta que ficou conhecida como Comunicado do Setor Empresarial Brasileiro, a entidade promoveu um posicionamento que teve repercussão nacional e internacional em reação à falta de controle do desmatamento ilegal da Amazônia e outros biomas nacionais por parte do governo brasileiro. Para falar sobre essa e outras iniciativas do CEBDs, a Amec promoveu encontro com Tatiana Assali, Gerente de Relações Institucionais da entidade e especialista em finanças ESG. Ela tem atuado lado a lado com Marina Grossi, que preside o CEBDS há 10 anos.
Ex-Head do PRI no Brasil, Tatiana transmitiu uma visão do cenário de forte valorização da agenda de sustentabilidade desde o ano passado, e que explodiu em 2020 com o advento da pandemia. Em apresentação institucional do CEBDS para associados da Amec, um dos temas de destaque foi o desenvolvimento do mercado de carbono.
“Ainda há muito que avançar, mas houve forte evolução recente com a repercussão do desmatamento da Amazônia e com a pandemia. Os empresários estão vivendo na pele essas dificuldades de captar recursos no exterior, incluindo os riscos de perder mercado por conta de questões ESG”, explicou. Em outras palavras, os empresários estão sentindo os efeitos comerciais da questão ambiental e começaram de fato a se mobilizar.
Posicionamento
O Comunicado do Setor Empresarial nasceu como uma demanda do Conselho de Líderes do CEBDS, para buscar uma iniciativa contundente em prol da Amazônia e de sua preservação. “Falamos da Amazônia, que é o tema da vez. Mas na verdade, a preservação ambiental em geral é o grande tema”, disse a representante da organização. O avanço do desmatamento vinha crescendo há mais de dez meses consecutivos, o que preocupava a liderança empresarial.
A divulgação do documento e a repercussão do Comunicado chamou atenção de outras empresas, que uniram esforços e aderiram ao que se transformou agora em um Movimento Empresarial pelo desenvolvimento sustentável. A ação hoje ultrapassa 70 instituições e continua pautando ações e medidas de preservação e produção mais sustentável.
Importante destacar que a pauta não se restringe à questão do desmatamento e das queimadas. Além do desmatamento ilegal na Amazônia e biomas, as outras pautas incluem: inclusão social, minimização de impacto, valorização da biodiversidade, créditos de carbono, redirecionamento de financiamentos e retomada de economia de baixo carbono.
Ações
Foi enviado comunicado para o Vice-Presidente da República Hamilton Mourão, que ocupa o posto de presidente do Conselho da Amazônia. Em seguida foi realizada uma reunião com ele que contou com a participação de sete CEOs. “Foi uma reunião muito importante, imagine um presidente de uma grande instituição falando para o vice-presidente da República que captar dinheiro no exterior não está fácil, e que o país está perdendo espaço no mercado internacional”, contou Tatiana.
Mercado de carbono
A representante do CEBDS explicou que o mercado de carbono é um dos temas principais de atuação e discussão da organização. “Criamos uma série de documentos para educar o próprio setor empresarial que tinha resistência com o tema”, esclareceu.
“Agora estamos entrando em uma nova etapa em 2020, que tem a ver com a elaboração de uma proposta para a criação de um mercado compulsório de carbono no Brasil”, revelou Tatiana. O CEBDS está realizando uma série de consultas com todos os interessados para a elaboração de uma proposta de marco regulatório de mercado de carbono brasileiro para o governo até a metade do ano que vem. Foi iniciada uma coleta de assinaturas em janeiro passado para apoiar a criação de um mercado de carbono, com participação dos CEOs.
O CEBDS
Tatiana Assali aproveitou o evento para apresentar o CEBDS aos associados da Amec, citando que a instituição conta com hoje com cerca de 60 empresas associadas com representação em diversos setores da economia. Recentemente, firmou parcerias com consultorias e escritórios de advocacia para ampliar a rede. A instância mais alta do CEBDS é o conselho de líderes formada pelos CEOs das empresas associadas. Três ou quatro vezes por ano os CEOs dessas empresas se encontram para definir os temas prioritários, as agendas e iniciativas que estão em voga.
Essas iniciativas são endereçadas nas câmaras temáticas, que são as vias por onde o CEBDS opera. As câmaras são as seguintes: água, impacto social, biodiversidade, clima e finanças sustentáveis. Nessas câmaras temos as equipes técnicas que elaboram os produtos ou entregas. Temos uma célula de comunicação muito ativa que apoia todas as áreas de projetos. Temos um blog muito bem acessado.
Tatiana enfatizou que a Amec é um fórum muito importante na relação com os setores empresariais e, por isso, reforçou a importância da aproximação com a Amec. “Podemos pensar juntos em usar essa rede de empresas que estão engajadas nos temas do desenvolvimento sustentável e ESG em geral”, comentou.