Perspectivas: Rumo ao “think tank” sem perder o DNA
Em seu segundo mandato na presidência executiva da Amec, Fábio Coelho celebra o aniversário de 15 anos da associação e destaca a projeção de consolidar a entidade como um “think tank” de governança. “Seguimos firmes na direção de consolidar a Amec como um celeiro de conhecimento de governança com produção de conteúdo técnico, realização de debates de alto nível com interação de toda a indústria de gestão”, diz.
Em nossa estratégia, o projeto de centro de conhecimento em governança é um norteador para o desenvolvimento dos trabalhos da Amec. Coelho esclarece, porém, que essa direção não representa mudança na essência da atuação e da missão da associação. “Fazer esse movimento sem perder nosso DNA, que é o de continuarmos vigilantes para cobrar as melhores práticas de governança na defesa dos direitos dos investidores e do desenvolvimento do mercado de capitais”, comenta.
“É uma história que temos muito que nos orgulhar. A Amec é uma entidade consolidada que alcançou a aproximação com investidores de diferentes perfis. Temos como associadas tanto assets com engajamento mais ativo, que se posicionam diante dos conflitos, quanto aquelas mais discretas, que preferem atuar nos bastidores. Temos também realizado um esforço para trazer os fundos de pensão para o quadro associativo, pois compartilham uma visão naturalmente voltada para o longo prazo que valorizamos demais.”, revela Coelho.
Ele destaca o trabalho de geração de valor as associadas como uma das prioridades da instituição. Os posicionamentos e a comunicação da Amec têm sido constantemente reforçados, e essa produção de trabalhos técnicos de maior profundidade é uma tarefa que está sendo reforçada, inclusive com a ampliação dos colaboradores.
A atuação junto ao governo, em especial o Executivo e o Legislativo, tem sido outra tônica e deve se acentuar nos próximos anos. A participação no IMK (Iniciativa do Mercado de Capitais), a interlocução sobre projetos de lei do Voto Plural e Reforma Tributária são alguns exemplos recentes da atuação de advocacy da Amec.
Espinha dorsal
Marcos de Callis, Presidente do Conselho Deliberativo da Amec, destaca que a atuação da associação deve continuar na defesa de práticas igualitárias no mercado de capitais. “Não podemos abandonar nossa espinha dorsal, que é a proteção aos minoritários”, diz. Em relação ao ESG, o representante diz que a Amec deve continuar privilegiando o “G” de governança.
“A defesa de boas práticas de governança continua sendo a questão principal para o futuro da Amec. Sem governança forte, não é possível desenvolver práticas sociais e ambientais adequadas”, comenta de Callis. Ele acredita que os investidores devem olhar a “G” como o primeiro pilar. “Vemos algumas empresas que focam somente em aspectos ambientais e sociais porque sabem que dão manchete. Se não tiver uma governança forte, o ‘E’ e o ‘S’ deixarão a desejar”, comenta.
Como principais temas a futuro, de Callis elenca o voto plural, no qual a Amec deve atuar para minimizar desdobramentos negativos. “Acredito que devemos estar atentos para que as super voting shares não produzam efeitos indesejáveis para o mercado de capitais”, diz. Outro ponto importante é a vigilância em relação às companhias que realizaram IPOs na recente janela de crescimento do mercado. Ele acredita que muitas delas, na ânsia de aproveitar a janela aberta, vieram a mercado sem a realização da devida “lição de casa” da governança.
Aumento dos associados
Para Marcos de Callis, o momento é adequado para atrair maior número de associados. Para isso, a Amec tem de continuar enfrentando o desafio de ampliar a percepção de valor pelos serviços oferecidos e pelos âmbitos e fóruns de articulação e debate. Além disso, a associação deve continuar com o esforço de aproximação com órgãos reguladores e governo, que tem sido uma das marcas da gestão atual. Tudo isso contribuirá para a atração de novos associados, sejam assets independentes ou fundos de pensão.
O projeto de se tornar um “think tank” de governança deve ampliar ainda mais a capacidade da Amec em influenciar e participar das discussões de novas regulações e legislações para o setor. “Estamos dando os primeiros passos nessa direção. A futuro acredito que seremos chamados com maior frequência para atuar na criação de novas regulações durante o processo de elaboração, o que é bem mais interessante”, prevê de Callis.
Governança em primeiro plano
Geraldo Affonso Ferreira, Conselheiro Independente e membro da Confraria da Governança, coincide que a Amec deve seguir privilegiando a atuação com foco em governança e desenvolvimento do mercado de capitais como um todo. Ele tem uma visão crítica sobre a onda ESG, que destaca com muita ênfase o ambiental, fala pouco do social e quase nada da governança. “Sem a governança, não se transforma a cultura de uma empresa. Então, não é possível avançar com o ‘E’ nem com o ‘S’”, explica.
Se não tiver uma governança forte nos conselhos e nos comitês, as práticas sociais e ambientais acabam se tornando apenas propaganda, segundo Geraldo. “A maioria das empresas no Brasil ainda tem controlador definido. Muitas delas guardam práticas de quando eram empresas familiares”, diz o conselheiro independente.
Daí que o papel da Amec continua relevante e exige o fortalecimento do trabalho de vocalização e comunicação, que tem sido reforçado na atual gestão. “Acredito que além dos direitos dos minoritários, deve-se focar no desenvolvimento do mercado de capitais como um todo. Deve-se alcançar todos os tipos de investidores direta ou indiretamente”, conta Geraldo.
Ele inclui além dos investidores institucionais domésticos, também os estrangeiros e as pessoas físicas. “A Amec tem condições de se tornar referência para todos os tipos de investidores. Não estou me referindo apenas ao trabalho com associados, mas com o mercado como um todo”, defende o especialista em governança. Ele destaca ainda a importância da advocacy, com a maior aproximação com órgãos de estado e de governo.
Sobre o projeto de se tornar um “think tank”, Geraldo acredita que é necessário buscar o apoio e participação da academia, a exemplo do que ocorre no Reino Unido. Um exemplo é o centro de governança corporativa mantido com a participação da London Business School.