Presidente do IBRI destaca mudança no perfil do profissional de RI
Profissional sênior com experiência internacional e carreira desenvolvida em grandes corporações como Braskem, Biosev, Springs Global, Dow Chemical Company e Unigel, Luiz Henrique Valverde assumiu o cargo de Presidente Executivo do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI) em julho de 2023. Em entrevista exclusiva ao Panorama Amec, o executivo aborda as principais tendências que impactam a atuação dos RIs (Relação com Investidores) das companhias, como por exemplo, o ESG (ambiental, social e governança), a tecnologia e nos novos formatos de assembleias.
“A sustentabilidade e o ESG estão ganhando força na atuação dos RIs. Os profissionais da área têm trabalhado para comunicar as iniciativas de sustentabilidade das empresas, relatar métricas ESG e responder às demandas dos investidores por informações relacionadas a esses temas”, diz trecho da entrevista. Ele destaca o aumento do número de assembleias realizadas em formato virtual ou híbrido nos últimos anos, sendo reforçada para a temporada de 2024.
O executivo aborda ainda as iniciativas realizadas pelo IBRI na capacitação e formação de RIs com o objetivo de aprimorar o trabalho com os investidores. Vale lembrar que o IBRI promoveu a implantação recente de uma nova estrutura de governança que prevê a separação entre o presidente executivo e o conselho deliberativo. Para a presidência do conselho, foi eleita Renata Oliva Battiferro para o biênio 2024-2025, que substituiu Geraldo Soares. Confira a seguir a entrevista de Luiz Valverde na íntegra:
Panorama Amec: O ambiente e os temas das Assembleias das empresas passaram por alterações importantes nos últimos anos. Poderia comentar como enxerga as principais mudanças e o impacto na atuação dos RIs?
Valverde: A natureza específica dos temas a serem abordados depende sempre da realidade de cada empresa, do setor onde ela atua e naturalmente das expectativas dos investidores. Mas podemos dizer que alguns temas são frequentes, tais como desempenho financeiro, estratégia de negócios, distribuição de dividendos, gestão de riscos, entre outros. Alguns temas, no entanto, tornaram-se recorrentes mais recentemente e estão ganhando tração.
Um bom exemplo é a agenda ESG, que incorpora a discussão sobre os compromissos das empresas em relação às suas metas ambientais, sociais e de governança, incluindo aí temas como diversidade e inclusão. As questões relacionadas com a composição e independência do Conselho de Administração, remuneração dos executivos e estrutura de governança também são importantes e as empresas de capital aberto precisam monitorar permanentemente as atualizações de boas práticas para terem uma melhor condução nas suas respectivas Assembleias.
Poderia explicar melhor o fortalecimento do ESG na pauta do RI? Quais os desafios estão colocados?
A sustentabilidade e o ESG estão ganhando força na atuação desses profissionais. Os investidores estão interessados nas práticas ambientais, sociais e de governança das empresas. Os RIs têm trabalhado para comunicar as iniciativas de sustentabilidade, relatar métricas e responder às demandas dos investidores por informações relacionadas a esses temas. Há um maior engajamento com Investidores, com destaque no engajamento proativo.
A diversidade e inclusão são outras questões de destaque. Eles tornaram-se temas importantes, e os RIs estão trabalhando para comunicar as iniciativas das empresas nessa área, incluindo políticas de recrutamento, representatividade nos Conselhos e práticas de inclusão no local de trabalho.
E sobre a própria dinâmica da assembleia, como você avalia as mudanças no formato de realização?
A tendência segue na direção de assembleias virtuais e híbridas, combinando participação presencial com participação online. As empresas estão cada vez mais adotando plataformas digitais para realizar suas Assembleias, permitindo que acionistas participem remotamente. Junto a isso, existe também a boa prática da adoção do boletim de voto a distância, ampliando o alcance e a acessibilidade das reuniões.
E nesse contexto, temos percebido uma mudança também nas habilidades exigidas dos profissionais de RI. Como você avalia essa transformação nos últimos anos?
Nos últimos anos, a atuação dos profissionais de RI passou por várias mudanças significativas devido a diversos fatores, incluindo avanços tecnológicos, mudanças regulatórias, pressões dos investidores e uma crescente ênfase na transparência e na governança corporativa. Entre esses temas estão a digitalização e a tecnologia.
O IBRI tem como missão contribuir com a formação e a valorização dos Profissionais de Relações com Investidores. Nosso objetivo é o de acompanhar o RI ao longo de toda sua jornada profissional, desde o analista até as posições no C-level. No nosso entendimento, para que haja um mercado de capitais eficiente, é condição necessária um RI engajado em sua missão de manter os investidores adequadamente informados sobre a sua Companhia e vice-versa, ou seja, manter a Companhia adequadamente informada sobre a percepção dos investidores.
O Instituto defende também a adoção de melhores práticas de Governança Corporativa e de RI alinhadas às regulamentações brasileiras e aos padrões internacionais, de forma a contribuir para a criação de um ambiente de investimento cada vez mais confiável.
Finalmente, com tantos desafios colocados como o Instituto tem atuado para direcionar essa transformação do profissional de RI?
O IBRI atua para promover a comunicação e a transparência entre as empresas e seus investidores, e acreditamos ser importante observar alguns princípios fundamentais e adotar algumas iniciativas, tais como, o reforço da transparência. O RI deve fornecer informações claras, precisas e relevantes aos investidores em bases recorrentes e eventuais, ou seja, aquelas que não estão no calendário e que têm potencial de impactar as decisões de investimento e os preços dos ativos.
Deve também atuar para fortalecer a comunicação. O RI deve promover a comunicação eficaz entre as empresas e seus investidores, incentivando a realização de reuniões, teleconferências, webcasts e outros eventos para fornecer atualizações sobre o desempenho da empresa. Além disso, deve manter-se atualizado e o IBRI oferece programas de capacitação e treinamento para profissionais de RI, ao longo da sua jornada profissional.
Tudo isso deve ser acompanhado de uma comunicação mais efetiva e dinâmica. Por isso, temos orientado para que os RIs explorem novas formas de se comunicar com os investidores, incluindo o uso de mídias sociais, webcasts, podcasts e outras plataformas digitais para não somente divulgar informações, mas também interagir com seus acionistas e stakeholders.