Presidentes da CVM, Amec e CFA abriram evento “A Retomada da Economia e o Papel do Mercado de Capitais”

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O Presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Marcelo Barbosa, abriu o seminário “A Retomada da Economia e o Papel do Mercado de Capitais” na manhã desta terça-feira (8), com uma apresentação em que tocou temas como a ascensão do ESG, educação financeira e o futuro do mercado de capitais. Realizado através de plataforma digital, 100% online, o evento conta com a organização da Associação dos Investidores no Mercado de Capitais (AMEC), em parceria com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o CFA Institute, e contará com diversos painéis, com palestrantes brasileiros e internacionais, que serão realizados na parte da manhã dos dias 9 e 10 de dezembro.

O Presidente-Executivo da Amec, Fábio Coelho, deu sequência à abertura do encontro, mencionando que “Após um ano tão intenso e desafiador como este 2020, é uma grande satisfação dar início a este evento que tem como objetivo lançar um olhar para o futuro, fazendo a reflexão sobre como o mercado de capitais poderá ajudar o país a retomar o caminho virtuoso do crescimento”, disse. Para fechar a mesa de abertura, houve a exposição de Felipe Nogueira, Presidente do CFA Society Brazil.

Em sua apresentação, Marcelo Barbosa ressaltou que a ascensão do ESG (ambiental, social e governança) não se trata de um modismo ou tendência passageira. “Tanto os investidores institucionais quanto os de varejo estão exigindo cada vez mais informações de como os emissores lidam com as questões socioambientais”, comentou o Presidente da CVM. Disse que o regulador está atento ao desenvolvimento dos critérios ESG e informou que a CVM acaba de lançar uma audiência pública da Instrução 480/2009 para o aperfeiçoamento da regulação.

Nesta atualização da norma, o objetivo é a redução dos custos de observância, para simplificar e eliminar redundâncias e, além disso, a revisão dos termos do formulário de referência. Neste quesito, a finalidade é aprimorar os itens do formulário justamente nas questões de prestação de informações de práticas ESG das empresas.

Marcelo Barbosa, Presidente da CVM. Foto: Divulgação.

Barbosa tocou também na importância dos temas do segundo dia do encontro, que abordarão a pauta da diversidade e a educação financeira. “A pauta da diversidade é um dos itens fundamentais do ESG”, comentou. E falou ainda que a educação financeira é uma necessidade do mercado de capitais brasileiro devido ao grande crescimento de novos investidores pessoa física que entraram na Bolsa nos últimos três anos.

Pacto Global

Marcelo Barbosa revelou ainda, em primeira mão, a notícia, durante sua exposição, que a CVM acaba de ser admitida como signatária do Pacto Global da ONU. “É o primeiro regulador brasileiro a ser admitido no Pacto Global. Após assumirmos uma série de compromissos e princípios, fomos admitidos pela iniciativa das Nações Unidas”, comentou. Ele reafirmou que os compromissos serão conduzidos de forma efetiva pela CVM e que terá impactos de acordo com os critérios ESG no mercado brasileiro e em seu arcabouço regulatório.

Sobre os temas do terceiro dia do evento, Barbosa ressaltou o olhar para o futuro do mercado de capitais, quando haverá o lançamento da agenda regulatória da CVM para 2021. Reforçou a importância do sistema de audiências públicas desenvolvido e aperfeiçoado pelo órgão de regulação e supervisão.

Cenário e perspectivas

Fábio Coelho traçou, em sua apresentação, os principais desafios, dificuldades e medidas de enfrentamento da pandemia pelos países e pelos agentes do mercado. Lembrou das expectativas otimistas da virada do ano passado para 2020, quando se esperava que finalmente a economia brasileira teria uma oportunidade ímpar de retomar o crescimento com consistência.

A chegada da pandemia provocou uma reviravolta nas expectativas. Em seguida, passou pelos números e impactos da Covid-19 sobre os países e mercados. E ressaltou a ação dos Bancos Centrais ao redor do mundo. “O Federal Reserve disse que faria o que fosse preciso para apoiar a economia, não foi força de expressão: cortes de juros, quantitative easing, recompras de ativos e empréstimos injetaram nada menos de 7,3 trilhões de dólares no sistema financeiro americano. Isso sem contar em ações de similar magnitude do Banco Central Europeu, do Banco da Inglaterra e do Banco do Japão”, lembrou.

No Brasil, os esforços também não foram pequenos com a injeção de recursos para manter a liquidez do sistema financeiro e o auxílio emergencial para milhões de brasileiros. Outro fator de forte impacto sobre a economia foi o corte ainda mais acentuado da Selic, que já vinha em patamares reduzidos. “Em um país tradicionalmente acostumado a juros na casa dos 2 dígitos e que já vinha sentindo os efeitos de um gradual afrouxamento monetário, o mundo de juros a 2 por cento é uma novidade inigualável para autoridades, gestores e investidores”, comentou Fábio Coelho.

Novos IPOs

As empresas, que ainda se recuperavam de 2015 e 2016, enxergaram no mercado de capitais uma chance para reforçar o caixa e, aquelas que estavam em melhor situação financeira, decidiram se listar para aproveitar oportunidades de expansão. Foi então que o mercado começou a registrar o retorno e a multiplicação dos IPOs de empresas querendo acessar a Bolsa.

Por outro lado, o cenário fiscal e político não apresentaram perspectivas tão positivas. No Brasil, onde o esforço fiscal deve elevar a dívida bruta do governo para mais de 90% do PIB, há pouco espaço para gastos extras. “Sem um sinal claro de busca pelo equilíbrio fiscal e reformas, o país pode se ver em uma situação mais espinhosa do que estava em 2019”, disse o Presidente da Amec.

Neste cenário complexo, o setor de investidores institucionais (assets e fundos de pensão) deve se reinventar e esse desejo é o que nos move a estar aqui hoje. E será necessário atender às novas demandas dos investidores pessoa física, para facilitar o acesso às informações e mecanismos de educação financeira.

Como é natural, a expansão do mercado também trouxe novos dilemas relacionados à governança. Questões como o voto plural ficaram mais evidentes à medida que startups passaram a acessar o mercado e que, em alguma medida, os grandes players de qualquer setor caminham para se tornar, também, players de tecnologia, explicou Fábio Coelho. Segundo ele, cabem ajustes para os quais contamos com a orientação e o discernimento oportuno da CVM.

“Na Amec, acreditamos que o crescimento do mercado deve ser acompanhado do aprimoramento contínuo da governança, do equilíbrio entre os participantes e do maior engajamento de investidores”. E continuou dizendo que, na visão dos investidores, o mercado de capitais cumpre a importante função social de transferir recursos privados para o desenvolvimento econômico do país, além de ser uma fonte de financiamento para as empresas. Ele terminou sua apresentação com uma visão otimista para o ano de 2021 no tocante ao desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro.

Inovação financeira

Felipe Nogueira falou sobre três temas principais da atuação do CFA Society Brazil que estão relacionados com os painéis do evento. Em relação à agenda ESG, ele lembrou da nova certificação que o CFA está oferecendo para os profissionais de investimentos. É um certificado que tem o objetivo de reconhecer as habilidades nos critérios socioambientais dos profissionais. O segundo tema foi a pauta da diversidade de gênero, em que o CFA tem realizado um programa de capacitação de 35 estudantes universitárias. É um projeto que começou na Índia e que agora chegou ao Brasil.

Por fim, o Presidente do CFA Brazil falou do prêmio de “Inovação Financeira” com a seleção e premiação em dinheiro de artigos acadêmicos. Além disso, a organização realizou também o CFA Research Challenge que está em sua 15a. edição. Trata-se de uma competição educacional entre universidades e instituições acadêmicas. “Os temas do ESG, diversidade e inovação fazem parte da agenda do CFA que estão alinhados com temas do evento”, disse Nogueira.

O primeiro dia do seminário da Amec-CVM-CFA contou ainda com os painéis “Caminhos para a integração das questões ambientais no Brasil” e “Governança corporativa como indutor do mercado de capitais”, E o evento continua nesta quarta-feira (9) com mais três painéis: “Olhar de futuro sobre a Educação Financeira”, “Influenciadores digitais e mercado de capitais” e “A pauta da diversidade no mercado de capitais”. O último dia contará com os seguintes painéis: “Agenda regulatória 2021 da CVM”, “Fortalecimento do enforcement para investidores minoritários” e “O Futuro do mercado de capitais”.

Leia cobertura completa do evento em edição especial do Panorama Amec.